Tár (2022)

Parece à primeira vista um filme biográfico, todavia a personagem Lydia Tár/Cate Blanchett é inteiramente ficcional. O nome não deixa qualquer margem para equívoco, ‘Tár’ foca-se integralmente na personagem Lydia Tár, uma maestra com uma carreira verdadeiramente invejável (descrita ao pormenor nos instante iniciais do filme) culminando com a direcção da conceituadíssima Orquestra Filarmónica de Berlin, num universo maioritariamente dominado pelos homens Tár é uma espécie de predestinada intocável. Contudo enquanto Lydia se prepara para lançar a sua biografia ao mesmo tempo que ensaia uma gravação ao vivo da quinta sinfonia de Gustav Mahler a sua vida pessoal vai-se desagregando com os inerentes custos para a sua realidade profissional. O grande destaque de ‘Tár’ vai obviamente para a fantástica performance de Cate Blanchett como Lydia Tár, mais uma vez Blanchett mostra todo o seu talento como actriz com uma facilidade e simplicidade incríveis. Por outro lado tenho de mencionar o que é para mim a grande falha de ‘Tár’, o seu argumento, mais especificamente o foco do mesmo, pois parece-me que seria muito mais interessante abordar a vida de ‘Tár’ explorando a sua natural aptidão para conduzir orquestras de musica clássica em vez dos seus banais e entediantes dramas pessoais muito similares a tantas outras mulheres em cargos de relevo. 

7/10

[Sample]

Im Westen nichts Neues (2022)

‘Im Westen nichts Neues’, uma forte aposta da Netflix para os Óscares é na verdade um segundo remake do original ‘All Quiet on the Western Front’ (1930) sendo que o primeiro remake remonta a 1979. É uma espécie de habitué nos nomeados para os Óscares a presença de um filme cujo pano de fundo é uma guerra sendo que o mais recente (‘1917’), curiosamente também ele se passa no contexto da primeira guerra mundial. Todavia ao contrário de ‘1917’ em ‘Im Westen nichts Neues’ a perspectiva sobre a guerra não é do lado dos aliados mas sim do lado Germânico, a história do filme centra-se no jovem Paul Bäumer que em conjunto com os seus amigos mais próximos decide alistar-se no exército Alemão influenciado por uma entusiasta onda patriótica. Contudo após chegar à linha da frente dessa mesma guerra Paul fica completamente aturdido enquanto se vai apercebendo que afinal a guerra é recheada de sofrimento, brutalidade e desespero e que a prometida glória não passa de uma proclamada ilusão. Com a maior parte do elenco composto por ilustres desconhecidos (com a excepção de Daniel Brühl como Matthias Erzberger) ‘Im Westen nichts Neues’ consegue mostrar com grande transparência o bárbaro e chocante realismo da guerra ao mesmo tempo que ilustra com dramatismo até que ponto a vida humana é descartável. 

7.5/10 

[Sample]

 

Avatar: The Way of Water (2022)

Treze anos depois o lendário realizador James Cameron revisita Pandora para uma arriscada e pouco consensual sequela de ‘Avatar’ intitulada ‘Avatar: The Way of Water’. ‘Avatar: The Way of Water’ não teve de facto uma promoção comparável ao seu antecessor, arriscaria a dizer que o filme até passou despercebido a muitos dos entusiastas da saga. A quando do primeiro filme Cameron tinha afirmado que a ideia desta saga pairava na sua cabeça desde há muito tempo, resta saber se essa ideia afinal compreendia dois filmes. Se em termos técnicos ‘Avatar: The Way of Water’ confirma todos os predicados de ‘Avatar’, uma fabulosa cinematografia complementada por uma realização intocável, em termos de argumento o filme fica bastante aquém das espectativas, se já em ‘Avatar’ esse tinha sido precisamente o item mais débil desta feita essa debilidade ainda ficou mais exposta. A história de ‘Avatar: The Way of Water’ mais não é do que uma repetição da história do primeiro filme, mais uma vez os humanos invadem Pandora em busca de um recurso natural e mais uma vez Jake Sully e a sua respectiva família (agora bem numerosa) é perseguida sendo que a diferença mais evidente é que nesta ocasião o contexto das ocorrências é o mundo aquático. Outro defeito evidente de ‘Avatar: The Way of Water’ é precisamente a sua duração, é inexplicável como é que um filme com um enredo tão básico tem uma duração que passa as três horas de filme, os incontáveis minutos de filme perdidos apenas e só para se mostrar a beleza natural de Pandora poderiam facilmente ser reduzidos para metade sem que o filme perde-se alguma parte do seu conteúdo. 

7/10

[Trailer]

Babylon (2022)

Tal como ‘The Fabelmans’ também ‘Babylon’ de alguma forma presta homenagem ao mundo da sétima arte. Com três nomeações aos Óscares da Academia esta nova proposta do prodígio Damien Chazelle (‘La La Land’, ‘First Man’ e ‘Wiplash’) acontece em Hollywood nos loucos anos 20 em plena transição do cinema mudo para a sua versão com som. A história de ‘Babylon’ centra-se em quatro personagens (Brad Pitt/Jack Conrad, Margot Robbie/Nellie LaRoy, Jovan Adepo/Sidney Palmer e Diego Calva/Manny Torres), cada um deles com uma diferente perspectiva e interacção com um “universo” Hollywoodesco completamente em roda vida caracterizado pela excentricidade, devassidão, ostentação e efusividade. Com um elenco de respeito pautado por interpretações quase todas elas de alto nível, uma especial atenção ao detalhe quer em termos de cinematografia quer em termos de realização e um argumento laborioso que consegue de forma engenhosa intercalar drama com comédia, ‘Babylon’ consegue de forma simultaneamente competente e camuflada manter o interesse do espectador apesar da sua extensa duração. 

7.5/10 

[Trailer]

The Fabelmans (2022)

Vamos mudar o foco e dar a devida atenção a vários dos filmes nomeados para os Óscares começando por ‘The Fabelmans’, a nova proposta do incontornável Steven Spielberg. Apesar de estar longe de ser um filme biográfico a história de ‘The Fabelmans’ tem vários pontos de contacto com a vida do próprio Spielberg, particularmente durante a sua adolescência. Algures no Arizona na ressaca da segunda guerra Mundial o jovem Sammy Fabelman começa progressivamente a manifestar interesse pela realização de filmes. Enquanto se vai deparando com várias adversidades no seu seio familiar Sammy faz uma espécie de catarse desses problemas através da exploração da seu talento natural na arte da realização conseguindo dessa forma extrair algo positivo de situações perturbadoras. Além do jovem Gabriel LaBelle no papel de Sammy o elenco de ‘The Fabelmans’ conta com alguns nomes respeitados tais como Michelle Williams/Mitzi Fabelman, Paul Dano/Burt Fabelman e Seth Rogen encarnando Bennie Loewy. ‘The Fabelmans’ acaba por ser um filme que encaixa na mais recente tendência do mestre Spielberg, filmes em a realização é praticamente perfeita mas que o argumento fica longe de ser aditivo ou particularmente interessante. Uma última nota para a breve e surpreendente participação no venerado David Lynch na pele de John Ford.

 7/10

[Trailer]