Quase três semanas depois da
cerimónia vamos finalmente dar a devida atenção aos Óscares, dado que para mim esta review só faz sentido após o
visionamento da grande maioria dos filmes nomeados. A edição 93 dos Óscares tal como a edição anterior e como não poderia
deixar de ser, foi também fortemente marcada pela pandemia, desde logo porque
foi adiada para o mês de Abril mas além disso foi também a edição com uma das
mais fracas audiências de sempre com a respectiva quebra em termos financeiros.
Mais uma vez deixo a nota que este post é centrado na justiça da entrega dos
prémios e não na cerimónia em si porque o objectivo do Blog não passa por
discutir as “lições de moral” dos discursos de uma classe altamente privilegiada
mas sim por debater o mérito dos galardões.
Ao
contrário do que é habitual desta vez vou começar pelo Melhor Filme Estrageiro atribuído com alguma surpresa ao Dinamarquês
‘Druk’ (Another Round), e honestamente não posso fazer um comentário mais
informado porque foi o único filme que vi desta categoria mas consigo ainda
assim dizer que sem dúvida é um filme que vale a pena ver e que porventura até
merecia uma nomeação da categoria de Melhor
Musica Original com a faixa ‘What a
Life’ dos Scarlet Pleasure.
Nas
categorias técnicas ‘Tenet’, sem
concorrência à altura ganhou o prémio para os Melhores Efeitos Visuais enquanto ‘Sound of Metal’ venceu na categoria de Melhor Som que é uma espécie de junção entre os “antigos” Óscares de Melhor Edição de Som e Melhor Mistura de Som, o que faz algum
sentido dado que foram muito raras as vezes em que não foi o mesmo filme a
vencer as duas. No Óscar de Melhor
Edição vejo-me obrigado a referir a inexplicável ausência de ‘Tenet’ nos nomeados, provavelmente um
dos filmes com uma das mais difíceis edições de sempre. ‘Sound of Metal’ foi também o vencedor nesta categoria e
infelizmente estes viriam a ser os únicos Óscares
ganhos por ambos os filmes durante toda a cerimónia.
Os
Óscares de Melhor Guarda-Roupa e Melhor Maquilhagem acabaram por “cair”
para ‘Ma Rainey's Black Bottom’ num
duelo bastaste renhido com ‘Mank’
para mim os dois grandes favoritos nestas categorias sendo que ‘Mank’ acabou por se “vingar” vencendo
na categoria de Melhor Direcção Artística,
com toda a justiça.
No
sempre emblemático Óscar de Melhor
Cinematografia quem acabou por levar a melhor também foi ‘Mank’ no que me pareceu num dos prémios
em que á partida não haveria discussão possível, apesar de ‘Nomadland’ também se ter destacado
nesta categoria.
Passamos
para os argumentos, e se no Melhor Argumento
Adaptado tendo a concordar com a escolha do excelente ‘The Father’, numa categoria onde ‘The White Tiger’ teve a sua única nomeação, já não posso dizer o
mesmo sobre o Melhor Argumento Original,
uma categoria onde já se tornaram tradição as escolhas completamente absurdas
foi mais uma vez o que voltou a acontecer com o prémio a ser atribuído a ‘Promising Young Women’ em detrimento de
filmes como ‘Judas and the Black Messiah’,
‘The Trial Of The Chicago 7’ ou ‘Sound Of Metal’, simplesmente inacreditável.
Na
parte mais esperada da noite foi para mim onde se cometeram as maiores atrocidades,
falo como é obvio dos Óscares de interpretação
e a minha critica não vai necessariamente para a justiça na escolha dos vencedores
mas sim para a completa falta de critério na separação de actores principais e secundários.
Nas actrizes a vencedora do Óscar de
Melhor Actriz Secundária foi a Sul Coreana Yuh-Jung Youn pelo seu papel em ‘Minari’ no que foi o único Óscar
atribuído ao filme e penso honestamente que as interpretações de Glenn Close em ‘Hillbilly Elegy’ ou Olivia
Coleman em ‘The Father’ seriam escolhas mais adequadas. No galardão de Melhor
Actriz Principal a vencedora foi mais uma vez Frances McDormand pelo seu formidável papel em ‘Nomadland’ e a meu ver com inteira justiça
apensar de Viola Davies ter também
ela feito uma incrível prestação em ‘Ma
Rainey's Black Bottom’. Nos actores Daniel
Kaluuya pulverizou qualquer tipo de concorrência possível na categoria de Melhor Actor Secundário com o seu
fabuloso papel em ‘Judas and the Black
Messiah’ provando que é sem duvida um dos melhores actores da sua geração,
destaque para a incompreensível nomeação nesta mesma categoria de LaKeith Stanfield no mesmo filme
deixando aparentemente, ‘Judas and the
Black Messiah’ sem um actor principal. Foi com total espanto que me fui
apercebendo de uma grande revolta generalizada acerca da justiça da entrega do Óscar de Melhor Actor Principal,
aparentemente muita gente ficou indignada pela não atribuição do prémio ao falecido
Chadwick Boseman pela sua prestação
(que infelizmente seria a ultima) em ‘Ma
Rainey's Black Bottom’ numa espécie de Heath
Ledger parte dois, e o que me apraz dizer sobre o assunto é o seguinte,
lamento como é óbvio a prematura morte de Boseman
e não tenho duvidas que ele teria muito para oferecer ao cinema agora tentar
comparar o seu papel neste filme com o de Anthony
Hopkins em ‘The Father’ ou com o
genial Joker de Ledger em ‘The Dark Knight’
é comparar o incomparável, aliás com completa imparcialidade até se pode
facilmente reconhecer que as interpretações de Gary Oldman em ‘Mank’ ou
Riz Ahmed em ‘Sound Of Metal’ são claramente superiores à de Chadwick Boseman. Tudo isto torna-se ainda mais estranho quando me
parece evidente que Chadwick Boseman
nunca poderia estar nomeado nesta categoria mas sim na de Melhor Actor Secundário pois é bastante claro que a personagem principal
de ‘Ma Rainey's Black Bottom’ é a própria
Ma Rainey interpretada com distinção
por Viola Davies como já referi. Qualquer
pessoa com imparcialidade e sentido crítico diria que é incontestável o Óscar ter sido entregue a Hopkins pela sua magistral interpretação
em ‘The Father’.
Na
realização mais uma vez Fincher a
ser preterido apensar do seu excelente trabalho em ‘Mank’ recaindo a escolha em Chloé
Zhao com ‘Nomadland’ com alguma injustiça
pois parece-me evidente que a dificuldade de fazer um filme como ‘Mank’ exige muito mais de um
realizador.
E
finalmente chegamos ao Melhor Filme
e também aqui quem levou a melhor foi ‘Nomadland’,
apesar de que na minha opinião ‘Mank’, ‘The Trial Of The Chicago 7’ e ‘The Father’ serem claramente mais
interessantes quer em termos de história quer em termos de qualidade cinematográfica.
Uma última nota para a aberrante inclusão de ‘Minari’ e ‘Promising Young Women’ nesta categoria quando
ficaram de fora filmes como ‘Tenet’,
‘The White Tiger’ ou ‘The Devil All The Time’ só para dar
alguns exemplos.