quinta-feira, 28 de abril de 2022

King Richard (2021)

As biografias têm-se tornado gradualmente numa espécie de ultimo reduto temático do cinema Norte-Americano e 2021 foi um ano bastante prolífico neste aspecto, também ele com representação nas nomeações dos Óscares, ‘King Richard’ é um bom exemplar deste agudizado pendor. ‘King Richard’ encaixa na perfeição na estirpe dos chamados “Oscar bait”, aliás eu arriscava a dizer que essa predisposição é tão evidente que nunca houve sequer uma tentativa de a disfarçar. Se seria perfeitamente justificado e quem sabe interessante até a concepção de uma Biografia acerca das mais famosas irmãs do Ténis mundial (Venus Williams e Serena Williams) todavia em alternativa é-nos oferecida uma Biografia sobre o seu pai. ‘King Richard’ centra-se então na vida de Richard Williams e na sua influência na juventude e na progressão de carreira das ainda juniores irmãs Williams. Se em termos de execução pouco se pode apontar a ‘King Richard’, na perspectiva da autenticidade o filme acaba por ser um verdadeiro fiasco mostrando um Richard numa versão muito mais adocicada, altruísta e íntegra do que a realidade nos tem mostrado. Além do óbvio destaque da excelente interpretação de Will Smith como Richard Williams pouco mais a dizer sobre mais esta entediante tentativa falhada de transformar um documentário num filme de ficção. 

6/10

quarta-feira, 27 de abril de 2022

The Power of the Dog (2021)

The Power of the Dog’ foi um dos filmes com mais nomeações num total de 11, mas tal como Belfast acabou por apenas confirmar uma delas (Melhor Realizador), saindo assim como um dos maiores derrotados da cerimónia dos Óscares. O argumento de ‘The Power of the Dog’ transporta-nos para o longínquo ano de 1925 algures no Montana onde os irmãos Burbank (Phil/Benedict Cumberbatch e George/Jesse Plemons) são detentores de um muito bem-sucedido rancho, esse mesmo rancho (aparentemente já pertença da família há algum tempo) é todavia o único ponto de confluência entre as suas díspares personalidades. Phil parece carregar uma profunda angústia proveniente de uma forte nostalgia sobre um passado que o marcou em definitivo e que o transformou numa pessoa austera, rude e cruel apesar do seu nível de cultura ser bastante acima da média para a altura em questão, enquanto George revela-se uma personagem afável, afectuoso e gentil. Apesar das devidas diferenças ‘The Power of the Dog’ tem sem dúvida alguma convergência com ‘Brokeback Mountain’, quer pelo ambiente “Western” quer pelo enfoque no tema da homossexualidade, factor que não sendo problemático reduz de alguma forma o nível de originalidade. ‘The Power of the Dog’ acaba por ser um filme que não sendo entediante tem pouco de imprevisível e de entusiasmante, a excepção é seguramente a impressionante interpretação de Cumberbatch na difícil “pele” de Phil Burbank. Um derradeiro destaque para a participação de Kirsten Dunst no papel de Rose Gordon, ela que acaba por se casar com George Burbank recuperando assim o inesquecível casal da Season 2 de ‘Fargo’. 

6.5/10 

terça-feira, 26 de abril de 2022

Severance - Season 1 (2022)

Quem tem a acompanhado a carreira de Bem Stiller por certo nunca o imaginaria a realizar uma série como ‘Severance’. O conceito desta fenomenal série assenta numa premissa que tem tanto de simples como de criativa, algures num ficcional futuro empresarial as empresas de topo, de modo a garantir uma completa confidencialidade, exigem aos seus colaboradores algo de impensável, a autorização para uma mini cirurgia onde um pequeno microchip é implantado no cérebro como o objectivo de bloquear todas a memórias captadas dentro da empresa quando se volta à vida quotidiana e vice-versa. O efeito desta intervenção provoca assim uma espécie de divisão de personalidade em cada pessoa que se sujeitou a faze-la. Como um soberbo potencial de expansão ‘Severance’ consegue agarrar de forma bastante subtil o interesse dos espectadores não só pelo seu imaginativo argumento como pelo seu ambiente hermético, corporativo e minimalista. ‘Severance’ tem ainda a virtude de reunir um conjunto de actores de excelência como o protagonista Adam Scott/Mark e os completamente subestimados Patricia Arquette/Harmony Cobel, John Turturro/Irving e Christopher Walken/Burt. Até no genérico inicial e na banda sonora ‘Severance’ denota um invejável padrão de qualidade comprovando que nada foi deixado ao acaso. 

8/10

[Trailer] 

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Belfast (2021)

Apesar de ter reunido sete nomeações aos Óscares da Academia acabou por apenas confirmar uma delas, falo desta feita de ‘Belfast’. Com uma história centrada no auge do paradigmático conflito religioso entre Católicos e Protestantes na capital da Irlanda do Norte no final dos anos 60, ‘Belfast’ mostra-nos o essencial do quotidiano de uma família Protestante no coração do tumulto. Toda a componente técnica de ‘Belfast’ sobressai desde o início do filme, uma sensacional cinematografia conjurada na difícil variante do preto e branco tal como há cerca de um ano em ‘Mank’ e uma realização de excelência a cargo do carismático Kenneth Branagh (o nativo de Belfast que brilhou na pele do irrascível Sator em ‘Tenet’). Também no âmbito das interpretações ‘Belfast’ facilmente se destaca pela sua qualidade global onde se notabilizam em particular as prestações de Ciarán Hinds e Judi Dench. Já no domínio do argumento ‘Belfast’ desilude por completo pois a história do filme não passa de uma fracassada tentativa de ficção, tal como no mais que sobrevalorizado ‘Minari’, um “conjunto de vídeos familiares” num determinado contexto não se transformam por si só num filme. O conteúdo de ‘Belfast’ acaba assim por ficar apenas entregue à conjectura onde ele ocorre como se de um documentário se tratasse.   

6.5/10         

domingo, 24 de abril de 2022

The Batman (2022)

2022 Vai também ficar marcado pelo regresso do mais icónico super-herói que a BD já nos revelou, Batman o eterno cavaleiro negro está de volta em ‘The Batman’. Passou uma década desde o ultimo filme protagonizado pelo emblemático cavaleiro negro, foi em ‘The Dark Knight Rises’ o filme que concluiu a prestigiada trilogia pensada pelo prodigioso Christopher Nolan, e o primeiro grande mérito de ‘The Batman’ é precisamente a diferenciada abordagem ao imaginário de Batman procurando logo aí marcar o tom em termos de originalidade. A história de ‘The Batman’ assenta principalmente na magnífica capacidade que Batman possui enquanto detective desviando o foco de toda a parafernália tecnológica que o nosso icónico herói nos tem habituado. A grande convergência de ‘The Batman’ com a trilogia de Nolan é sem dúvida a aposta num oponente altamente carismático, desta feita o meticuloso, obsessivo e inteligentíssimo The Riddler, um doentio “serial Killer” interpretado de maneira admirável por Paul Dano (ele que aparenta ter um especial talento para este tipo de papéis pois já o tinha feito de forma exemplar no fantástico ‘Prisoners’ em 2013). Além de uma cinematografia bem representativa de Gotham, um ritmo bem equilibrado entre as sequências de acção e o desenrolar da história ‘The Batman’ mostra-nos também uma realização bastante dinâmica e hábil. A grande dúvida sobre o filme residia na capacidade de Robert Pattinson conseguir encarnar de forma convincente o duplo papel de Batman e Bruce Wayne e na minha opinião se foi competente na pele de Batman deixou algo a desejar como Bruce Wayne. As principais contrariedades ‘The Batman’ a meu ver acabam por ser as escolhas de Jeffrey Wright e Andy Serkis para os papéis de James Gordon e Alfred, claramente não encaixaram de todo nas personagens.  
7.5/10