terça-feira, 31 de maio de 2022

Svet - The Truth (2022)

Tal como já o tinha feito o lendário Varg Vikernes no início da década de 90 com os seus Burzum, a história volta agora a repetir-se com o Helénico Athanasios e o seu projecto Svet, uma expressão que significa luz em Russo. Svet é a autêntica “one man band” e tal como os fizeram os Burzum nesses tempos já algo distantes, a aposta musical passa essencialmente pelo Black Metal, um Black Metal melódico, melancólico e por vezes depressivo onde a componente Ambiental e algum Folk ainda que camuflado, ganham uma assumida preponderância. Também na vertente lírica Athanasios abraça de forma clara as suas origens ao explorar o grande legado deixado pela filosofia Helénica. Temas como as extraordinárias ‘Everything Is Just A Dream’ ou ‘Odysseus (Divergent Path)‘ emprestam a ‘The Truth’ uma aura de misticismo aliada a um misto de emotividade e energia que já vai sendo pouco frequente num álbum de Black Metal tradicional ainda por cima tratando-se de uma estreia. Um último destaque para a sensacional ‘I Am The Star’, o ponto mais alto de ‘The Truth’ e a faixa que coloca em definitivo o álbum na categoria de melhor lançamento de 2022 até ao momento na esfera do Black Metal.  

8/10

[Sample]   

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Cancer Bats - Psychic Jailbreak (2022)

Foi no passado mês de Abril que os inconformados Canadianos Cancer Bats voltaram a dizer presente com o seu sétimo álbum de originais ‘Psychic Jailbreak’. Com a saída do seu emblemático guitarrista Scott Middleton (um dos fundadores da banda) a sucessão de ‘The Spark That Moves’ previa-se desde logo um “parto” altamente difícil de realizar, no entanto a banda mais uma vez conseguiu ultrapassar a adversidade e concluir um trabalho meritório e competente. ‘Psychic Jailbreak’ mostra-nos uns Cancer Bats que, mesmo sem atingirem na íntegra a compostura da dicotomia entre Stoner e Southern Heavy Metal da sua fase mais recente conseguiram de algum modo reinventarem-se da única forma que faria algum sentido ou seja, agarrarem-se afincadamente à sua enérgica e insubordinada receita de Hardcore e Punk da qual na verdade nunca se desligaram por completo. A ausência de Middleton é indisfarçável e faz naturalmente alguma mossa na qualidade geral de ‘Psychic Jailbreak’, no entanto faixas como, ‘The Hoof’, ‘Hammering On’ e especialmente o tema título ‘Psychic Jailbreak’ são bons exemplos da capacidade de resiliência dos Cancer Bats

7/10

[Sample]

Rammstein - Zeit (2022)

Ao perceber o feedback positivo gerado pelo novo trabalho dos Germânicos Rammstein (‘Zeit’), vejo-me obrigado a reflectir acerca da minha perspectiva sobre a carreira da banda. A imagem de um “Blitzkrieg” de Industrial incendiário, robusto, impetuoso e orelhudo espelhado de forma efusiva em temas como ‘Feuer Frei!’, ‘Links 2 3 4’, ‘Wollt Ihr Das Bett In Flammen Sehen?’ ou ‘Sehnsucht’ tem-se diluído progressivamente numa espécie de Industrial light dominado por um Electrónio rudimentar, fogaz e insípido. Confesso que tive alguma esperança em ‘Zeit’ a quando da primeira audição do segundo single ‘Zick Zack’, talvez a melhor faixa produzida pelos Rammstein desde o sensacional ‘Mutter’, infelizmente o resto do álbum está longe, bastante longe da qualidade deste tema. Com muito boa vontade posso destacar ‘Giftig’ e o terceiro single ‘Angst’ como os temas mais aceitáveis num álbum que tem tudo para ser tornar efémero e enfadonho ainda mais precipitadamente que o seu antecessor ‘Rammstein’.

5.5/10

The Northman (2022)

Continuamos no separador de cinema mas agora numa versão pós Óscares para falar de ‘The Northman’, um filme que prometia ser o grande épico de 2022 mas acabou por defraudar (pelo menos em parte) as espectativas. O argumento de ‘The Northman’ não é necessariamente medíocre o problema é que é completamente decalcado de outros filmes do mesmo género, ‘Braveheart’, ‘Gladiator’ só para citar os mais emblemáticos. O jovem viking Amleth (herdeiro de King Aruvandil) vê o seu pai ser assassinado e a sua mãe capturada pelo seu irrascível tio Fjölnir, contra todas as espectativas Amleth consegue sobreviver e fugir e vai crescendo ao mesmo tempo que germina em si um incontrolável desejo de vingança. A história de ‘The Northman’ é tão similar à de ‘Gladiator’ que após os primeiros minutos do filme facilmente conseguimos perceber tudo o que se vai desenrolar até final, ou seja o factor se imprevisibilidade é completamente tirado da equação. Para além da falta de originalidade da história ‘The Northman’ ainda se depara uma mediocridade geral em termos de representações alicerçadas em diálogos de uma banalidade atroz. Alexander Skarsgård simplesmente não convence como Amleth, falta-lhe empatia, densidade e magnetismo. Também Anya Taylor-Joy que mostrou talento no papel de Beth Harmon em ‘The Queen's Gambit’ não consegue de todo seduzir a audiência como Olga of the Birch Forest

6.5/10

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Os Óscares 2022

Nem a propósito, lembrei-me da piada de Ricky Gervais acerca do popular ditado “é melhor chegar atrasado do que morto”. Cerca de um mês e meio depois chega finalmente a clássica review acerca da entrega dos tão cobiçados galardões. As minhas desculpas pela demora, mas acho que esta review só faz sentido depois de consumadas as reviews da grande maioria dos filmes nomeados, daí esta sequência de críticas cinematográficas assim de “estalo” (pun intended) nos últimos dias. Escusado será dizer que mais uma vez não assisti à cerimónia, aliás depois de pensar um pouco mais aprofundadamente no assunto cheguei à lógica conclusão que o acentuado decréscimo de audiência da cerimónia dos Óscares está directamente relacionada com uma generalizada e justificada falta de interesse no cinema por parte do público mais exigente.

                Para variar um pouco desta vez vou começar por dois prémios que estão umbilicalmente ligados (Melhor Guarda Roupa e Melhor Maquilhagem e Penteado), e aqui a concorrência foi apertadíssima. No Óscar de Melhor Maquilhagem e Penteado os favoritos ‘Coming 2 America’, ‘Cruella’ e ‘House of Gucci’ acabaram por deixar fugir o prémio para a supressa ‘The Eyes of Tammy Faye’, destaco a inexplicável ausência de ‘Being The Ricardos’ nesta categoria. No Melhor Guarda Roupa foi ‘Cruella’ a arrecadar o prémio (o seu único) de forma algo injusta diria eu, pois penso que ‘West Side Story’ teve um padrão de exigência muito mais difícil de atingir.

                De alguma forma também interligados, o Óscar de Melhor Design de Produção acabou por cair para ‘Dune: Part One’ vencendo a forte concorrência de ‘Nightmare Alley’, um filme que acabou por não confirmar nenhuma das suas quatro nomeações.

                E falando em ‘Dune: Part One’, o filme pulverizou completamente a competição em todas as categorias técnicas (Melhor Som, Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais), categorias onde simplesmente não havia qualquer tipo de oposição digna desse nome. Apesar de ser um dos prémios que menos me estimula (devo confessar), um destaque para o triunfo do fabuloso Hans Zimmer na Melhor Banda Sonora (também em ‘Dune: Part One’) Zimmer que tinha rejeitado a oferta do seu amigo Christopher Nolan para participar em ‘Tenet’ precisamente por estar concentrado em ‘Dune: Part One’.

                No Óscar de Melhor Filme Estrangeiro o meu cometário tem de ser reduzido pois apenas vi ‘Drive My Car’, posso no entanto dizer que pela amostra do vencedor os restantes nomeados serão por certo filme calamitosos.

                No cada vez mais apetecível galardão de Melhor Cinematografia quem levou novamente a melhor foi ‘Dune: Part One’ arrecadando o seu sexto Óscar em nove possíveis ultrapassando no “Photo finish” as formidáveis performances cinematográficas de ‘West Side Story’ e ‘The Power of the Dog’.

                Nos Óscares de Melhor Argumento Original e Adaptado, prémios onde já vão sendo tradição as decisões mais absurdas, desta vez também não foi excepção. Se ainda consigo aceitar a conquista de ‘CODA’ na condecoração de Melhor Argumento Adaptado embora ‘Dune: Part One’ também o merecesse não consigo de maneira alguma aceitar a vitória de ‘Belfast’ no Melhor Argumento Original, ‘Belfast’ é um filme que têm alguns pontos positivos mas o argumento certamente não é um deles até porque basicamente não existe, é verdade que este ano não foi prolifico em termos de bons argumentos originais (talvez a minha escolha pessoal recaísse sobre ‘Don't Look Up’) mas a escolha de ‘Belfast’ é no mínimo provocatória.

                Chegamos ao momento mais problemático e dramático (em todos os sentidos) dos Óscares, as distinções no domínio da interpretação. Nas actrizes o Óscar de Melhor Actriz Secundária foi entregue a Ariana DeBose pela brilhante interpretação da personagem Anita em ‘West Side Story’ de forma merecida embora seja justa uma menção honrosa a Judi Dench pelo seu papel em ‘Belfast’. Enquanto na Melhor Actriz Principal tenha de discordar com a Academia pois apesar da excelente e difícil representação Jessica Chastain na pele de Tammy Faye em ‘The Eyes of Tammy Faye’ ela não supera de todo a de Nicole Kidman/Lucille Ball em ‘Being The Ricardos’, aliás Kidman arranca aqui uma representação que se afigura como uma das melhores da sua carreira e num tipo de personagem com um contexto muito similar ao de Chastain, por isso perfeitamente comparável. Na esfera masculina temos a vitória indiscutível de Troy Kotsur pelo seu admirável papel em ‘CODA’ na categoria de Secundário, e a empolgante e emotivo triunfo de Will Smith como ‘King Richard’, vestindo a pele do pai das mais famosas irmãs do ténis mundial (Venus e Serena Williams). Não pondo em causa a versatilidade e entrega de Smith e dando de barato que a sua prestação supera o competente desempenho de Denzel Washington como Macbeth ('The Tragedy of Macbeth') ou a fantástica performance de Andrew Garfield como Jonathan Larson em tick, tick... BOOM! ela não suplanta a excepcional demostração de talento de Benedict Cumberbatch como Phil Burbank em ‘The Power Of The Dog’.

                Na categoria de realização, novamente o reparo para a exclusão de Aaron Sorkin (‘Being The Ricardos’) nas nomeações e o merecido destaque para a única conquista de ‘The Power Of The Dog’ (Jane Campion), num prémio que a meu ver podia e devia ter sido discutido entre Kenneth Branagh (‘Belfast’), Steven Spielberg (‘West Side Story’) e Denis Villeneuve (‘Dune: Part One’) ele que inacreditavelmente também não estava nomeado.

                O galardão de melhor filme brindou o filme ‘CODA’, certamente um dos filmes mais consistentes de um ano particularmente débil no âmbito do cinema e onde tenho poucas dúvidas em apontar ‘Dune: Part One’ como o melhor do ano de forma destacada, os seus seis Óscares suportam bem a minha tese.

                O Post já vai bastante longo mas não posso evitar um cometário ao acontecimento mais marcante da cerimónia (o estalo mais visto de sempre). A atitude de Will Smith apenas demonstrou a sua falta de poder de encaixe e uma amostra da sua instabilidade emocional, ainda por cima um actor que saiu do anonimato precisamente através da comédia, os meus parabéns à incrível capacidade de improviso de Chris Rock que lhe permitiu prosseguir com o espectáculo.