quarta-feira, 18 de maio de 2022

Os Óscares 2022

Nem a propósito, lembrei-me da piada de Ricky Gervais acerca do popular ditado “é melhor chegar atrasado do que morto”. Cerca de um mês e meio depois chega finalmente a clássica review acerca da entrega dos tão cobiçados galardões. As minhas desculpas pela demora, mas acho que esta review só faz sentido depois de consumadas as reviews da grande maioria dos filmes nomeados, daí esta sequência de críticas cinematográficas assim de “estalo” (pun intended) nos últimos dias. Escusado será dizer que mais uma vez não assisti à cerimónia, aliás depois de pensar um pouco mais aprofundadamente no assunto cheguei à lógica conclusão que o acentuado decréscimo de audiência da cerimónia dos Óscares está directamente relacionada com uma generalizada e justificada falta de interesse no cinema por parte do público mais exigente.

                Para variar um pouco desta vez vou começar por dois prémios que estão umbilicalmente ligados (Melhor Guarda Roupa e Melhor Maquilhagem e Penteado), e aqui a concorrência foi apertadíssima. No Óscar de Melhor Maquilhagem e Penteado os favoritos ‘Coming 2 America’, ‘Cruella’ e ‘House of Gucci’ acabaram por deixar fugir o prémio para a supressa ‘The Eyes of Tammy Faye’, destaco a inexplicável ausência de ‘Being The Ricardos’ nesta categoria. No Melhor Guarda Roupa foi ‘Cruella’ a arrecadar o prémio (o seu único) de forma algo injusta diria eu, pois penso que ‘West Side Story’ teve um padrão de exigência muito mais difícil de atingir.

                De alguma forma também interligados, o Óscar de Melhor Design de Produção acabou por cair para ‘Dune: Part One’ vencendo a forte concorrência de ‘Nightmare Alley’, um filme que acabou por não confirmar nenhuma das suas quatro nomeações.

                E falando em ‘Dune: Part One’, o filme pulverizou completamente a competição em todas as categorias técnicas (Melhor Som, Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais), categorias onde simplesmente não havia qualquer tipo de oposição digna desse nome. Apesar de ser um dos prémios que menos me estimula (devo confessar), um destaque para o triunfo do fabuloso Hans Zimmer na Melhor Banda Sonora (também em ‘Dune: Part One’) Zimmer que tinha rejeitado a oferta do seu amigo Christopher Nolan para participar em ‘Tenet’ precisamente por estar concentrado em ‘Dune: Part One’.

                No Óscar de Melhor Filme Estrangeiro o meu cometário tem de ser reduzido pois apenas vi ‘Drive My Car’, posso no entanto dizer que pela amostra do vencedor os restantes nomeados serão por certo filme calamitosos.

                No cada vez mais apetecível galardão de Melhor Cinematografia quem levou novamente a melhor foi ‘Dune: Part One’ arrecadando o seu sexto Óscar em nove possíveis ultrapassando no “Photo finish” as formidáveis performances cinematográficas de ‘West Side Story’ e ‘The Power of the Dog’.

                Nos Óscares de Melhor Argumento Original e Adaptado, prémios onde já vão sendo tradição as decisões mais absurdas, desta vez também não foi excepção. Se ainda consigo aceitar a conquista de ‘CODA’ na condecoração de Melhor Argumento Adaptado embora ‘Dune: Part One’ também o merecesse não consigo de maneira alguma aceitar a vitória de ‘Belfast’ no Melhor Argumento Original, ‘Belfast’ é um filme que têm alguns pontos positivos mas o argumento certamente não é um deles até porque basicamente não existe, é verdade que este ano não foi prolifico em termos de bons argumentos originais (talvez a minha escolha pessoal recaísse sobre ‘Don't Look Up’) mas a escolha de ‘Belfast’ é no mínimo provocatória.

                Chegamos ao momento mais problemático e dramático (em todos os sentidos) dos Óscares, as distinções no domínio da interpretação. Nas actrizes o Óscar de Melhor Actriz Secundária foi entregue a Ariana DeBose pela brilhante interpretação da personagem Anita em ‘West Side Story’ de forma merecida embora seja justa uma menção honrosa a Judi Dench pelo seu papel em ‘Belfast’. Enquanto na Melhor Actriz Principal tenha de discordar com a Academia pois apesar da excelente e difícil representação Jessica Chastain na pele de Tammy Faye em ‘The Eyes of Tammy Faye’ ela não supera de todo a de Nicole Kidman/Lucille Ball em ‘Being The Ricardos’, aliás Kidman arranca aqui uma representação que se afigura como uma das melhores da sua carreira e num tipo de personagem com um contexto muito similar ao de Chastain, por isso perfeitamente comparável. Na esfera masculina temos a vitória indiscutível de Troy Kotsur pelo seu admirável papel em ‘CODA’ na categoria de Secundário, e a empolgante e emotivo triunfo de Will Smith como ‘King Richard’, vestindo a pele do pai das mais famosas irmãs do ténis mundial (Venus e Serena Williams). Não pondo em causa a versatilidade e entrega de Smith e dando de barato que a sua prestação supera o competente desempenho de Denzel Washington como Macbeth ('The Tragedy of Macbeth') ou a fantástica performance de Andrew Garfield como Jonathan Larson em tick, tick... BOOM! ela não suplanta a excepcional demostração de talento de Benedict Cumberbatch como Phil Burbank em ‘The Power Of The Dog’.

                Na categoria de realização, novamente o reparo para a exclusão de Aaron Sorkin (‘Being The Ricardos’) nas nomeações e o merecido destaque para a única conquista de ‘The Power Of The Dog’ (Jane Campion), num prémio que a meu ver podia e devia ter sido discutido entre Kenneth Branagh (‘Belfast’), Steven Spielberg (‘West Side Story’) e Denis Villeneuve (‘Dune: Part One’) ele que inacreditavelmente também não estava nomeado.

                O galardão de melhor filme brindou o filme ‘CODA’, certamente um dos filmes mais consistentes de um ano particularmente débil no âmbito do cinema e onde tenho poucas dúvidas em apontar ‘Dune: Part One’ como o melhor do ano de forma destacada, os seus seis Óscares suportam bem a minha tese.

                O Post já vai bastante longo mas não posso evitar um cometário ao acontecimento mais marcante da cerimónia (o estalo mais visto de sempre). A atitude de Will Smith apenas demonstrou a sua falta de poder de encaixe e uma amostra da sua instabilidade emocional, ainda por cima um actor que saiu do anonimato precisamente através da comédia, os meus parabéns à incrível capacidade de improviso de Chris Rock que lhe permitiu prosseguir com o espectáculo.

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