sábado, 31 de dezembro de 2022

The Banshees of Inisherin (2022)

A curta carreira do realizador Martin McDonagh tem sido recheada de filmes férteis em originalidade e excentricidade, são disso bons exemplos ‘Seven Psychopaths’, ‘Three Billboards Outside Ebbing, Missouri’ e ‘In Bruges’. Ora é precisamente de ‘In Bruges’ que é repescada a dupla de actores Colin Farrell e Brendan Gleeson para os respectivos papéis de Pádraic Súilleabháin e Colm Doherty neste ‘The Banshees of Inisherin’. Passada numa remota e rural ilha da costa Oeste da Irlanda a história de ‘The Banshees of Inisherin’ é bastante simples, ela centra-se essencialmente na longa amizade entre Padraic e Colm terminada de forma totalmente inesperada e abrupta por este último, todavia Padraic não se conforma com a decisão do seu “amigo” e tenta a todo custo reatar a relação entre os dois ainda que a sua insistência acabe por provocar consequências bastante sérias. O argumento de ‘The Banshees of Inisherin’ não tem de facto a mesma profundidade que os outros filmes do cardápio de McDonagh, contudo a forma como as personagens estão escritas e as formidáveis interpretações de Farrell e Gleeson que as suportam compensam de alguma forma a simplicidade da narrativa.

7/10

[Sample] 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Neurosis - A Sun That Never Sets (2001)

Depois de analisar minuciosamente a “versão” 90’s dos icónicos Neurosis vamos agora dar palco à primeira manifestação sonora da banda após a viragem do milénio, ou seja, o seu sétimo álbum de originais ‘A Sun That Never Sets’. É um verdadeiro desafio fazer uma crítica a ‘A Sun That Never Sets’ não porque seja difícil falar sobre os Neurosis mas sim porque é precisamente a partir deste álbum que a banda começar a deixar cair as características que eu mais admiro, o Sludge Metal monólito com uma força gravitacional exponencialmente densa e impiedosa vai progressivamente dando lugar à melodia com contornos depressivos dentro de um vasto manancial de experimentalismo com ramificações que chegam até ao Folk. Todavia apesar de não ser para mim dos melhores álbuns dos Neurosis e mantendo a imparcialidade possível tenho de mencionar que ‘A Sun That Never Sets’ foi dos álbuns que mais projectou a banda para o pódio de bandas de culto no seio da música mais pesada. Para se ter uma ideia do quanto os Neurosis estavam à frente do seu tempo, 2001 foi o ano em que um verdadeiro “tsunami” de Nu-Metal assolava os Estados Unidos enquanto isso os Neurosis absortos do que se passava à sua volta começavam a criar as fundações do que viria anos mais tarde a ser designado como Post-Metal.

7.5/10

[Sample] 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Ashbreather - Hivemind (2022)

É provavelmente a última grande surpresa musical de 2022, falo dos Canadianos Ashbreather que lançaram no passado mês de Novembro o seu segundo álbum de originais ‘Hivemind’. Foi com algum espanto que descobri que os Ashbreather começaram a sua carreira (ainda antes da sua actual designação entenda-se) como uma banda de tributo aos emblemáticos Suecos Opeth. ‘Hivemind’ é um álbum curioso, que pode precipitadamente ser considerado pretensioso já que é um álbum conceptual composto apenas por um tema, todavia após várias audições facilmente percebi que ‘Hivemind’ nada tem de pretensioso, mas sim de dinâmico, enérgico, habilidoso e inventivo. Entrelaçados num prodigioso e imaginativo Progressivo alicerçado no Sludge Metal os Ashbreather exibem o seu talento numa esotérica e extra-sensorial viagem de 37 minutos. Tal como os formidáveis Dvne em ‘Asheran’ também os Ashbreather nos transportam para o imaginário de planetas distantes e raças alienígenas aumentando ainda mais a amplitude da sua criatividade. Num ano pautado por um anormal vazio de boas supressas musicais ‘Hivemind’ é provavelmente a principal excepção.

8/10

[Sample] 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Glass Onion: A Knives Out Mystery (2022)

Já aqui o tinha referido na review de ‘See How They Run’, é cada vez mais evidente uma espécie de onda de revivalismo de filmes “who did it” e ‘Glass Onion: A Knives Out Mystery’ é mais um que encaixa na perfeição nessa categoria. Três anos depois do formidável ‘Knives Out’ o peculiar detective Benoit Blanc/Daniel Craig está de volta com um novo caso. Desta feita a história desenrola-se quando cinco amigos de longa data são convidados pelo multimilionário Miles Bron/Edward Norton para passarem um fim-de-semana temático sendo que o tema é o seu próprio assassinato, todavia o “infiltrado” Blanc vai-se apercebendo que o que à partida seria apenas entretenimento e diversão tem na verdade contornos muito mais sérios. A notória tentativa de replicar a fórmula de ‘Knives Out’ não foi, a meu ver, bem-sucedida e para isso contribuiu decisivamente, não só um argumento sem a mesma imprevisibilidade como também a frivolidade da generalidade dos personagens com excepção feita a Benoit Blanc, curiosamente a única personagem a participar nos dois filmes. Nem sei se neste caso se pode criticar as interpretações em si, porque de facto a grande maioria das personagens nada tem de peculiar ou de interessante.

6.5/10

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Amsterdam (2022)

Antes de mais aproveito esta review para desejar umas boas festas a todos os leitores do blog. O filme em questão é ‘Amsterdam’, filme este que não tem a meu ver recebido o devido reconhecimento. ‘Amsterdam’ pode não ter um efeito sideral nos espectadores, mas tem os predicados mais do que suficientes para se destacar numa altura em que a sétima arte é completamente dominada pelo “cinema McDonalds” onde reina a idiotice e a falta de consistência. Com um elenco verdadeiramente de luxo onde se podem destacar nomes como Christian Bale/Burt Berendsen, Margot Robbie/Valerie Voze, John David Washington/Harold Woodman, Anya Taylor-Joy/Libby Voze, Rami Malek/Tom Voze e Robert De Niro/General Gil Dillenbeck é no entanto no seu argumento que reside a maior virtude de ‘Amsterdam’ com uma bem elaborada e intrigante história passada entre as duas grandes guerras. A fase inicial de ‘Amsterdamesconde de forma bastante astuta a parte mais pesada e “indigesta” que o filme nos reserva a partir do seu segundo terço, passando de uma toada ligeira e por vezes cómica até para um abordagem elegante e credível a temas tão intensos como o fascismo. ‘Amsterdam’ acaba por ser um filme que vai progressivamente ficando mais interessante com um generoso punhado de excelentes interpretações.
 
7.5/10