quarta-feira, 27 de julho de 2022

Shovel - Shovel (2022)

Da mesma editora dos Sunczar (Argonauta Records) chega finalmente a estreia dos Alemães Shovel, após o lançamento de três singles o tão antecipado álbum com o título homónimo emergiu enfim dia 27 do passado mês de Maio. Directamente de Berlin os Shovel vieram decididos a impor a sua presença no povoado espectro da indissociável aliança entre o Sludge e Stoner Metal, contudo como é comum nestes subgéneros em particular, a ampla difusão musical acaba sempre por interagir com outras influências sendo que a mais frequente (Post-Metal) aparentemente não despertou uma especial curiosidade por parte do quarteto Germânico. A trilogia inicial de ‘Shovel’ exibe-nos uns Shovel empenhados em alicerçar a complicada ponte entre o Sludge e o Black Metal onde se especializaram bandas com os Lord Mantis, The Lion's Daughter ou os lunáticos Dragged Into Sunlight, todavia é na segunda metade do álbum que os Shovel dão largas à sua criatividade e mostram todo o seu talento e perícia ao conseguirem juntar à sua “poção” de Sludge/Stoner uma dimensão ambiental com influências distintamente Psicadélicas recorrendo pontualmente ao arrastamento do Doom Metal. Destaco as excelentes ‘The Void’ e ‘A Case Against Optimism’ mas particularmente a incrível e viciante ‘The Lake’, a faixa que encerra ‘Shovel’. 

8/10 

[Sample]

terça-feira, 26 de julho de 2022

Mantar - Pain Is Forever And This Is The End (2022)

O duo Germânico Mantar está de regresso com o sucessor do fantástico ‘The Modern Art Of  Setting Ablaze’ intitulado ‘Pain Is Forever And This Is The End’. Depois de um álbum de excelência como é o caso ‘The Modern Art Of Setting Ablaze’ a fasquia fica de tal maneira alta que se torna difícil para qualquer banda voltar a esse auge, no caso especifico dos Mantar isso também acabou por acontecer, todavia de uma forma muito dissimulada. Musicalmente ‘Pain Is Forever And This Is The End’ marca um certo regresso às sonoridades exploradas nos dois primeiros álbuns da banda onde os riffs vão acentuando uma forte carga de Rock/Punk/Grunge com a sujidade e negrume do Black Metal exponenciado pelas ásperas e corrosivas vocalizações de Erinc e Hanno. Ainda que seja de uma forma menos evidente que em ‘The Modern Art Of Setting Ablaze’ o Sludge Metal continua também a ser uma vertente essencial na dimensão instrumental da banda, tornando-se predominante na parte final do álbum (‘Horder’ e ‘Odysseus’) em contraste com parte inicial marcada por muito Rock e Punk (‘Egoisto’, ‘Hang 'Em Low (So The Rats Can Get 'Em)’, e ‘Grim Reaping’) ou mesmo com a "acidental" e indisfarçável homenagem aos Nirvana no tema ‘Piss Ritual’. Confesso que ‘Pain Is Forever And This Is The End’ não é de todo o álbum que estava à espera de uma banda com os atributos técnicos e criativos dos Mantar, contudo acaba por ser um álbum de inegável qualidade que vai crescendo de interesse a cada nova audição.     

8/10

[Sample] 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Uncharted (2022)

É longa a lista de fracassos em filmes adaptados a partir de videojogos, contudo a história de ‘Uncharted’ vaticinava uma excepção. O argumento de ‘Uncharted’ centra-se na história de Nathan Drake/Tom Holland e o seu irmão Sam que ainda em miúdos partilhavam o fascínio pelas viagens de Fernão de Magalhães e a adjacente a lenda do ouro escondido, foi também nessa altura que Sam se viu obrigado a fugir da instituição de acolhimento onde os dois permaneciam com a promessa que voltar a encontrar Nathan no futuro. Anos mais tarde Drake é recrutado por Victor Sullivan/Mark Wahlberg (um pouco confiável caçador de tesouros) com o objectivo de encontrar esse mesmo tesouro perdido abrindo a Drake a possibilidade de poder voltar a ver o seu irmão. ‘Uncharted’ acaba por encaixar no subgénero de Acção/Aventura como uma espécie de Indiana Jones dos tempos modernos, porém sem nenhum do carisma e autenticidade do emblemático herói. ‘Uncharted’ exibe falhas altamente prejudiciais para a qualidade geral do filme, desde logo o péssimo casting onde se tenta fazer passar Tom Holland por um homem de trinta anos até à escolha de Wahlberg como Sully, até onde o casting foi acertado (a escolha de Antonio Banderas para o papel de Santiago Moncada, o suposto vilão de ‘Uncharted’) acabou por se revelar um desastre pois esse vilão é posteriormente substituído pela insípida e pouco credível Jo Braddock/Tati Gabrielle que parece ter saído directamente de um desfile de moda para encarnar a postura de soldado “badass”. ‘Uncharted’ é também prolífico na nova tendência de não explicar acontecimentos que basicamente acontecem entre cenas só porque o argumentista não se dá ao trabalho de os tentar explicar e na completa e ridícula desconsideração pelas leis da física. Usar carros como se fossem uma prancha de surf em queda livre de um avião e levantar barcos piratas com 500 anos em perfeito estado é insultuoso até para um miúdo de 8 anos.   

 5/10

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Doctor Strange in the Multiverse of Madness (2022)

Christopher Nolan salientou uma vez numa entrevista que os espectadores percebem quando uma cena é filmada através da técnica do “fundo verde” (os actores representam apenas com uma tela verde usada como fundo e a equipa de C.G.I. faz à posteriori a sua magia), será pois um interessante desafio para o espectador tentar deslindar quais as poucas cenas que não foram filmadas desta forma em ‘Doctor Strange in the Multiverse of Madness’. Se ‘Doctor Strange’ nem foi de todo dos piores filmes produzidos com o selo MCU já ‘Doctor Strange in the Multiverse of Madness’ reúne todos os defeitos praticamente inerentes ao género e ainda tem a “virtude” de coleccionar mais um. Mais uma vez a MCU apresenta acontecimentos longínquos como se tivessem passado no dia anterior ignorando por completo décadas de BD. Dizer que o argumento é estapafúrdio é um eufemismo, a história começa num pedido de ajuda de Dr. Strange a Wanda Maximoff (a.k.a. Scarlet Witch), todavia ela acaba por se revelar como a vilã do filme motivada apenas pela percepção que num outro universo do multiuniverso pode ser mãe nem que para isso tenha de assassinar America Chavez (uma adolescente que detém o poder de abrir portais entre o multiuniverso, apesar de não conseguir controlar esse mesmo poder), a Wanda desse próprio universo ou qualquer outra pessoa que se interponha no seu trajecto. Bom, os pontos negativos já tradicionais desde tipo de filmes estão todos presentes como não podia deixar de ser, o argumento carregado de lacunas e de conveniências absurdas, personagens completamente descredibilizados que aparentemente são escritos por comediantes falhados e interpretações com uma total ausência de empenho e carisma. Todavia a grande novidade de ‘Doctor Strange in the Multiverse of Madness’ é a gritante e rudimentar tentativa da MCU persuadir os espectadores a verem as péssimas séries da sua autoria, como se alguém tivesse dificuldade em perceber argumentos com a banalidade que nos continuam a impingir.       

5.5/10

segunda-feira, 18 de julho de 2022

The Boys - Season 3 (2022)

2022 Assinala também o regresso de uma forte aposta da Amazon Prime, falo da terceira temporada de The Boys. Volto a frisar que a ideia inicial de The Boys é bastante fértil em originalidade como já o tinha referido na review da Season 1, uma perspectiva insólita e única sobre o que os heróis podem esconder por trás da sua aparência pseudo divina, é sem duvida uma abordagem refrescante, ora se esse primeiro impacto foi-se naturalmente diluindo na segunda temporada, a história da série até se desenrolou de uma forma satisfatória e interessente com várias revelações importantes sobre a empresa Vought (a grande responsável pela existência de super-heróis e por gerir a sua imagem), a inclusão de personagens com forte presença (Stormfront à cabeça) e uma natural evolução nos nossos já conhecidos personagens, ora esta Season 3 falha redondamente em dar sequência ao progresso atingido nessa segunda temporada acabando mesmo por conduzir a série a um estado de estagnação. Desta fez a inclusão de novos personagens é posta em prática através do recurso ao passado resgatando vários elementos do supergrupo predecessor aos Sete, com especial enfâse para o entediante e vazio Soldier Boy. A partir de certa altura desta Season 3 os episódios orbitam praticamente em torno de Soldier Boy deixando o grande objectivo dos renegados comandados por Billy Butcher (desmascarar os fétidos e hediondos segredos da gigante Vought e da sua fachada de Super-heróis corruptos e desprezíveis) completamente “na prateleira”. Após o último episódio desta Season 3, The Boys deixa uma conhecida, penosa e fatigante sensação que não se progrediu rigorosamente nada na história principal e que voltámos ao ponto inicial da temporada. Pela terceira vez vou também criticar o que me parece ser um erro crasso e sucessivo de The Boys, o absolutamente desnecessário exagero de sangue acompanhado da vivida e desproporcional exibição de uma vasta gama de atrocidades físicas, é verdade que existe a possibilidade de haver um motivo oculto para esta obsessão com o “gore” mas a meu ver ela só descaracteriza a série degradando a sua credibilidade e coerência em prol de uma imaturidade que roça o ridículo. 

6.5/10