quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Wonder Woman 1984 (2020)

Dificilmente poderia haver uma escolha mais apropriada do que ‘Wonder Woman 1984’ para fechar as reviews deste penoso ano. Numa altura em que o cinema Norte-Americano está em verdadeira convulsão essencialmente pela polémica decisão da Warner Bros. em lançar os seus próximos filmes simultaneamente nas salas de cinema e na HBO Max devido aos efeitos da pandemia, ‘Wonder Woman 1984’ foi uma espécie de cobaia desta decisão. Depois de sucessivos adiamentos ‘Wonder Woman 1984’ acaba por estrear mesmo recta final do ano e acaba também instantaneamente por se transformar numa metáfora de 2020, pois é mesmo um verdadeiro desastre cinematográfico. ‘Wonder Woman 1984’ simplesmente não tem pontos positivos, desde um argumento direccionado a espectadores com um QI abaixo de 40, péssimos personagens com as respectivas péssimas interpretações, filosofias assentes em frases feitas de postais, total e completa ausência de lógica ou qualquer explicação cabal para o que vai acontecendo até aos aberrantes e retrógrados efeitos visuais, nada, mas mesmo nada funciona em ‘Wonder Woman 1984’, talvez com muito boa vontade consiga destacar Chris Pine porque no meio deste lixo cinematográfico parece ser o único que pelo menos aparenta ter a noção do que é interpretar uma personagem de maneira credível. Quando existe uma revolta motivada pela perda de receita em bilheteira não seria igualmente justificada uma revolta dos espectadores quando pagam bilhetes de cinema para verem verdadeiras catástrofes cinematográficas como este ‘Wonder Woman 1984’?! 

3/10 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Fargo - Season 1 (2014), Season 2 (2015), Season 3 (2017), Season 4 (2020)

É uma das séries mais emblemáticas dos últimos anos, falo de ‘Fargo’ que começou em 2014 e já vai na quarta temporada que foi emitida precisamente este ano. ‘Fargo’ transporta-nos para uns Estados Unidos do interior onde inacreditáveis sequências de insólitos acontecimentos tem lugar deixando os espectadores ainda mais perplexos quando percebem que ainda para mais são baseados em factos verídicos.

Embora a cidade de Fargo propiamente dita se situe na fronteira entre os estados do North Dakota e Minnesota a maioria dos acontecimentos da três primeiras séries ocorrem mesmo em Minnesota. Na primeira série as peripécias passam-se essencialmente na pequena terreola de Bemidji e começam quando um exímio assassino contratado Lorne Malvo/Billy Bob Thornton é obrigado a interromper a sua viagem devido a um incidente de viação com um veado, posteriormente e completamente por acaso tem um breve encontro com Lester Nygaard/Martin Freeman um modesto e covarde vendedor de seguros que é constantemente humilhado pela sua esposa, este casual encontro no hospital entre os dois despoleta uma verdadeira torrente de homicídios nunca vista em Bemidji para a qual a polícia local não está de todo preparada com a excepção da uma sagaz, inteligente, perseverante e ambiciosa detective local (Molly Solverson/Allison Tolman). Esta primeira Season é na minha opinião a melhor das quatro, não só pelo brilhante argumento, pela excelência da produção dos emblemáticos irmãos Coen, que já tinham sido responsáveis pelo formidável filme de 1996 do mesmo nome que até tem uma interessante ligação a esta primeira série, mas também e essencialmente pela fabulosa interpretação de Billy Bob Thornton na pele de Malvo provavelmente a melhor representação de um papel que eu já vi numa série.

A Season 2 de ‘Fargo’ remonta a 1979 e conta a história do famoso ‘massacre de Sioux Falls’. Lou Solverson/Patrick Wilson o pai de Molly Solverson que aparece na Season 1 já reformado era nesta altura um polícia da ‘Minnesota State Patrol’ que se vê em mãos com um triplo homicídio supostamente cometido por Rye Gerhardt, um dos membros da todo-poderosa família Gerhardt, uma família que domina a criminalidade local, porém quase imediatamente aos homicídios Rye é atropelado por Peggy Blumquist/Kirsten Dunst que juntamente com o marido Ed/Jesse Plemons numa pouco consistente tentativa de encobrir o sucedido acabam por se posicionar no meio de uma sangrenta guerra pelo controle do crime na região entre a já referida intrépida família Gerhardt e a ‘máfia’ de Fargo liderada no terreno pelo sereno mas mortífero Mike Milligan/Bokeem Woodbine. A Season 2 de ‘Fargo’ prolonga o mesmo estilo da primeira dando enfâse ao argumento, ao ambiente onde o esporádico humor negro atenua o drama e violência dos acontecimentos, e especialmente à excelência das interpretações com destaque para Dunst e Wilson mas onde não posso deixar de mencionar Nick Offerman (que foi recentemente o protagonista da série ‘Devs’) no fantástico papel de Karl Weathers, um pseudo advogado que se perde constantemente em divagações politicas em virtude do seu “calculado” abuso do álcool.    

A Season 3 de ‘Fargo’ passa-se em 2011 entre as cidades de St. Cloud, Eden Valley, e Eden Prairie todas pertencentes ao estado do Minnesota e gira em torno da eterna quezília entre os irmãos Stussy ambos interpretados com mestria por Ewan McGregor, Emmit um empresário de sucesso intitulado pela comunidade local como ‘o rei do estacionamento de Minnesota’ e Ray um falhado agente de liberdade condicional que se apaixona por Nikki Swango/Mary Elizabeth Winstead uma delinquente manipuladora. Além da constante hostilidade com o seu irmão Ray, Emmit depara-se em simultâneo com uma parceria não desejada com um tal de V. M. Varga/David Thewlis, um corrupto e intrépido empresário Britânico, consequência directa de um preexistente empréstimo feito pela sua empresa quando esta passava por uma altura mais difícil. Um bizarro homicídio protagonizado do por um dos condenados a cargo de Ray com a particularidade de a vítima também ter o sobrenome Stussy dá o mote para o desenrolar do enredo da série. Destaque para a sublime prestação de David Thewlis na pele de V. M. Varga e para a subtil ligação com a Season 1 através de Mr. Wrench, um criminoso com a particularidade de ser surdo que foi enviado pela organização criminosa de Fargo juntamente com Mr. Numbers para confrontar Lorne Malvo nessa mesma temporada, aparece agora novamente, numa altura mais avançada da temporada 3 onde se junta a Nikki Swango enquanto ambos estão a ser transportados para uma prisão estadual.

Para finalizar e porque o post já vai longo temos a temporada mais recente (Season 4) de ‘Fargo’ e embora seja a mais recente cronologicamente até é a mais antiga pois passa-se 1950 desta vez em Kansas City em vez de Minnesota. A Série começa com uma breve introdução da evolução das associações criminosas até aos anos 50 naquela região culimando com o despique entre duas, a facção dos italianos e a facção dos Afro-americanos, a tradição vigente na altura para manter uma espécie de acordo de paz era trocar os filhos mais novos de ambos os chefes entre as facções e mais uma vez isso foi feito, no entanto e como vai sendo hábito no ambiente de ‘Fargo’ mais uma vez uma devido a uma série de acontecimentos altamente improváveis essa paz tem um final abrupto fazendo vir à tona não só a guerra aberta entre as duas facções como também a corrupção policial existente. Destaque não só para Josto Fadda/Jason Schwartzman e Loy Cannon/Chris Rock como os dois respectivos chefes, como também para Oraetta Mayflower/Jessie Buckley uma invulgar enfermeira psicopata, Odis Weff/Jack Huston o covarde policia com inúmeros tiques nervosos, Gaetano Fadda/Salvatore Esposito o rude, violento e impaciente irmão de Josto e o Marshal Dick “Deafy” Wickware/ Timothy Olyphant todos com extraordinárias interpretações. Uma nota final para a ligação com a Season 2 pois Satchel Cannon (o filho mais novo de Loy) viria anos mais tarde a torna-se, nada mais, nada menos do que Mike Milligan.

Para concluir, ‘Fargo’ tem mantido ao longo das quarto séries um invejável nível de qualidade assente em argumentos sólidos e consistentes e magnificas personagens, justificando e de que maneira o prestigio que lhe tem sido dado e afirmando-se desde logo como sendo uma das melhores séries já produzidas. 

9/10

 [Trailer 1] [Trailer 2] [Trailer 3] [Trailer 4]

The Rum Diary (2011)

Hunter S. Thompson foi um jornalista Norte-Americano que ganhou bastante notoriedade especialmente nos anos 60 e 70, usualmente creditado pela criação do “gonzo journalism”, um estilo de jornalismo feito na primeira pessoa e onde a realidade e a ficção estão normalmente misturadas, Thompson ficou também conhecido não só pelo seu enorme desprezo pelo autoritarismo e em particular pela figura de Richard Nixon como também pelo contínuo abuso de álcool e drogas ilegais. Nos seus romances Thompson usava regularmente alter egos inspirados nele próprio como foi o caso de Raoul Duke em ‘Fear and Loathing in Las Vegas’ genialmente adaptado para o cinema onde a personagem em questão é interpretada de maneira sublime pelo seu amigo Johnny Depp, situação que se repete neste ‘The Rum Diary’ onde Johnny Depp volta a encarnar uma ‘persona’ de Thompson que desta feita é Paul Kemp. Kemp é um jornalista vindo de Nova Iorque que aceita um trabalho num jornal local de Porto Rico, depois de se começar a ambientar ao consumo de álcool diário e ao convívio com os seus bizarros colegas de jornal Kemp vai-se apercebendo de como funciona o poder nesta pequena ilha do Atlântico. ‘The Rum Diary’ é um filme com uma interessante história que vai disfarçando com um fugaz mas interventivo humor o conteúdo mais dramático do filme onde sobressai a visão critica sobre situação política e económica da altura por parte de Thompson

7.5/10

[Trailer] 

Lucky Number Slevin (2006)

Outro grande filme de 2006 é ‘Lucky Number Slevin’, num estilo que vai variando entre o Thriller e a acção com umas nuances cómicas pelo meio muito comum nos filmes de Guy Ritchie, a excelência do filme assenta essencialmente no seu brilhante argumento original. A história de ‘Lucky Number Slevin’ é centrada em Slevin Kelevra (Josh Hartnett) que depois de passar uma semana recheada de azares decide ir visitar o seu amigo Nick Fisher a Nova Iorque, no entanto após encontrar o seu apartamento vazio começa a ser regularmente confundido com ele e muito rapidamente se vê numa típica situação do ‘homem errado na hora errada’ sendo empurrado para o centro de uma disputa entre dois rancorosos e vingativos chefes do crime que vivem imagine-se, em dois arranha-céus em lados opostos da mesma rua ao mesmo tempo que também entra em cena um exímio assassino contratado (Mr. Goodkat/Bruce Wills). Josh Hartnett que até então só tinha participado em dramas ou comédias românticas teve aqui uma verdadeira prova de fogo como actor ultrapassada com perícia na minha opinião, além do carismático Bruce WillsLucky Number Slevin’ conta ainda com os “pesos pesados” Ben Kingsley e Morgan Freeman, Lucy Liu e o versátil Stanley Tucci. Com uma fantástica cadência de acontecimentos alicerçada numa imprevisível e criativa historia ‘Lucky Number Slevin’ é sem dúvida um filme imperdível.

8.5/10

[Trailer] 

The Illusionist (2006)

Edward Norton é na minha opinião um dos mais injustiçados actores de Hollywood, a longo da sua já longa carreira tem-nos invariavelmente oferecido brilhantes desempenhos nas suas interpretações sem nunca ter sido por isso reconhecido com o tão cobiçado galardão apesar de ser sem dúvida, um dos mais talentosos actores da sua geração. Um excelente exemplo disso é o filme ‘The Illusionist’ onde Norton interpreta um famoso ilusionista (Eisenheim) que de volta a Viena (Áustria) no final do século XIX reencontra a sua paixão da adolescência, a Duquesa Sophie von Teschen (Jessica Biel) que se prepara agora para um casamento “arranjado” com o desprezível Príncipe Leopold, apesar de não verem há cerca de 15 anos ambos se reconhecem mutuamente e a chama do seu romance proibido devido à diferença de classes rapidamente se volta a acender, cabe agora a Eisenheim através da sua “magia” evitar o provável e angustiante destino de Sophie. Além do argumento, ‘The Illusionist’ conta também com uma extraordinária cinematografia e uma consistente e exigente realização. Além de Norton e BielThe Illusionist’ beneficia também e de que maneira com a presença do altamente subestimado e brilhante Paul Giamatti. Para infortúnio de ‘The Illusionist’ o filme ‘The Prestige’ saiu no mesmo ano e independentemente dos argumentos serem bastante diferentes a comparação é quase inevitável devido ao tema do ilusionismo ter sido abordado em ambos, embora de ‘The Illusionist’ tenha uma insuspeita qualidade ‘The Prestige’ está de facto num outro patamar. 

7.5/10

[Trailer]