terça-feira, 30 de setembro de 2025

Ashbreather - La Grande Bouffe (2025)

Depois de uma alucinante e desconcertante epopeia de sci-fi em ‘Hivemind’ os Canadianos Ashbreather estão de regresso com uma nova insanidade intitulada ‘La Grande Bouffe’. Vagamente inspirado pelo filme Ítalo-Francês de 1973 com o mesmo nome desta feita o conceito do álbum passa por uma insaciável e nojenta sociedade distópica norteada pela gula que se alimenta através de uma rede de condutas directamente ligada às habitações sendo que o feijão é a base dessa mesma alimentação ‘The Bean Pipe’. ‘La Grande Bouffe’ não é apenas bizarro no que diz respeito ao seu conceito como também na sua vertente instrumental. Os Ashbreather já nos habituaram a uma verdadeira miscelânea de subgéneros e o álbum confirma mais uma vez essa tendência do trio Canadense. Uma assimétrica, instável e imprevisível mistura de Sludge Metal com Progressivo por vezes a fazer lembrar Mastodon dos tempos de ‘Blood Mountain’ ou mesmo ‘Souls At Zero’ dos emblemáticos Neurosis, já noutras fases sobressai o ambiente putrefacto, carnavalesco e doentio que tem sido explorado com grande mestria por bandas como The Lion's Daughter ou Lord Mantis. Se a criatividade é sem dúvida o recurso mais valioso dos Ashbreather mais uma vez manifestamente comprovado em ‘La Grande Bouffe’ o grande contra do álbum é a sua produção, mesmo considerando que o Sludge Metal é suposto soar “sujo” a produção fica aquém do padrão actual. 

7.5/10

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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Paradise Lost - Ascension (2025)

Eles são uma espécie de instituição não só no Metal Britânico como no espectro do Doom/Gothic universal, falo obviamente dos Paradise Lost a propósito do seu décimo sétimo álbum de originais ‘Ascension’. Ascensão talvez não seja a palavra mais correcta, penso que retoma se adeqúe mais à fase em que se encontra o quinteto Inglês, uma retoma que começou em ‘Medusa’ e se foi transformando em estado de graça com ‘Obsidian’ um estado de graça que dura até hoje, basta ver a impressionante publicidade feita a ‘Ascension’ e o entusiamo da crítica generalizada. A grande pergunta é se todo este renovado hype em torno dos Paradise Lost é merecido?! Penso que a resposta nem sequer é discutível, é um rotundo sim. Talvez inspirados pela longa tour dos 30 anos de ‘Icon’ os Paradise Lost transportam para ‘Ascension’ as mais inconfundíveis características da sua identidade sonora, um Gothic Metal abrangente por vezes mais rasgado e orientado pelos riffs de autor de Gregor Mackintosh (‘Silence Like The Grave’, ‘Diluvium’), outras vezes com uma maior carga dramática onde predomina a melodia guiada pela incrível voz limpa de Nick Holmes (‘Sirens’, ‘This Stark Town’), ou outras ainda onde sobressai sua vertente mais Doom potenciada pela melancolia (‘Tyrants Serenade’, ‘Salvation’). Já há muito que os Paradise Lost abandonaram de vez a sua fase exploratória, ‘Ascension’ mostra uma banda estável, segura e em grande forma.

7.5/10

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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Nine Inch Nails - Tron: Ares (2025)

Não é mesmo nada fácil acompanhar a caótica e irregular  discografia dos Norte-Americanos Nine Inch Nails, confesso que esse factor tem sido um dos grandes motivos para o meu desinteresse pelos últimos trabalhos da banda, depois da tépida e letárgica trilogia de EP’s ‘Not The Actual Events’, ‘Add Violence’ e ‘Bad Witch’ os Nine Inch Nails lançaram o duplo álbum ‘Ghosts VI: Locusts’ e ‘Ghosts V: Together’ em 2020, mais um delírio ambiental de Trent Reznor com poucos ou nenhuns motivos de interesse numa galáxia já muito distante da banda que revolucionou o Industrial com o incontornável ‘The Downward Spiral’ há três décadas atrás. Ora passados cinco anos do ultimo lançamento conhecido os Nine Inch Nails estão de regresso com a surpreendente banda sonora ‘Tron: Ares’. Os Nine Inch Nails não são novatos nestas andanças pois já tinham feito o soundtrack do icónico jogo ‘Quake II’ em 1996 e mais recentemente a banda sonora de ‘The Social Network’ (embora apenas creditada a Trent Reznor e Atticus Ross), banda sonora aliás que acabou por premiar a dupla com um Óscar. Por falar em Atticus Ross, aparentemente os únicos dois membros oficiais dos Nine Inch Nails neste momento são precisamente a já referida dupla. Quanto ao álbum em si apesar de não atingir níveis de qualidade assinaláveis ‘Tron: Ares’ é bem capaz de ser o trabalho mais atractivo da banda desde ‘With Teeth’ o que já é dizer bastante. Realço os temas ‘As Alive As You Need Me To Be’, ‘Shadow Over Me’ e a instrumental ‘Ghost In The Machine’, faixas consistentes e representativas do bom equilibro entre Instrumental e Electrónico que Reznor se foi aprimorando ao longo da sua carreira.  

7/10

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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Bæst - Colossal (2025)

Quatro anos volvidos e aí está o regresso dos Dinamarqueses Bæst com o seu quarto álbum de originais ‘Colossal’. Se o antecessor ‘Necro Sapiens’ encaixava num registo de Death Metal no seu estado mais puro com sonoridades bem ao estilo dos Polacos Vader mas onde o Groove tinha uma palavra a dizer ‘Colossal’ apresenta uma mudança “colossal” (colossal será uma hipérbole mas o trocadilho estava a pedi-las). Em ‘Colossal’ os Bæst derivam de forma consciente para uma vertente de Death Metal altamente influenciada pelo Hard Rock, esta tendência é por vezes intitulada de Death ‘n’ Roll e as referências a bandas como Accept, AC/DC ou mesmo Deep Purple (só para dar alguns exemplos) vão-se evidenciando pelos vários temas de ‘Colossal’. Este fascínio pelo Hard Rock não é novo pois os Norte-Americanos Six Feet Under já o demostraram abertamente com os seus ‘Graveyard Classics’ e consequentes infusões nos seus álbuns de originais. ‘Colossal’ acaba por ser um álbum tecnicamente bem executado e com alguns temas aprazíveis contudo após várias audições vai tendencialmente tornar-se entediante pois esta espécie de repescagem em sonoridades antigas acaba invariavelmente por soar a algo ultrapassado. Não acho que tenha de existir um preconceito acerca do revivalismo mas esse conceito só funciona se realmente houver alguma forma de transformação criativa. Destaque para a participação de Jesper Binzer (vocalista dos Dinamarqueses D-A-D) na faixa ‘King Of The Sun’, a meu ver o ponto mais alto de ‘Colossal’.

7/10

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sábado, 13 de setembro de 2025

Between The Buried And Me - The Blue Nowhere (2025)

Cada novo álbum de Between The Buried And Me é uma espécie de caixa de Pandora pronta para ser aberta pois a imprevisibilidade é a grande imagem de marca da banda. Quatro anos depois do formidável ‘Colors II’ chega finalmente o seu sucessor ‘The Blue Nowhere’ e a questão que paira na cabeça dos fãs é: qual a influência que a saída do guitarrista Dustie Waring (um dos grandes motores criativos dos Between The Buried And Me desde 2004) terá nas sonoridades da banda?! Pois bem a resposta é fácil, de alguma forma a banda conseguiu amenizar esta importante saída e ‘The Blue Nowhere’ apresenta uma qualidade no mínimo equivalente a ‘Colors II’. Talvez os quatro anos de interregno tenham proporcionado uma cuidada e meticulosa análise sobre o futuro imediato dos Between The Buried And Me. ‘The Blue Nowhere’ comporta mais um punhado de grandes composições com a originalidade já característica da banda, uma bipolar e errática mescla entre Metalcore e Progressivo com laivos de ambiente circense sendo que a principal diferença para os seus antecessores acaba por estar no peso, é provavelmente o álbum mais pesado desde ‘The Parallax II: Future Sequence’, temas como a alucinante ‘Psychomanteum’ e particularmente ‘God Terror’ comprovam-no. Destaque ainda para a melódica e emocional ‘Beautifully Human’ (a faixa que encerra ‘The Blue Nowhere’), e a soberba ‘Absent Thereafter’ a malha mais abrangente da peculiar identidade sonora dos Between The Buried And Me.

8/10

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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Adur - We Fail To Love Ourselves (2025)

Oriundos de Brighton o quinteto Adur lançou o seu álbum de estreia no passado dia 29 de Agosto. Engane-se quem pensa que os Adur têm falta de experiencia ou imaturidade pois apesar da banda ser nova todos os seus elementos têm alguma tarimba no cenário underground Britânico e basta apenas uma audição de ‘We Fail To Love Ourselves’ para percebermos isso facilmente. Seria talvez demasiado redutor chamá-los de Generation Of Vipers Ingleses todavia as semelhanças são por demais evidentes. ‘We Fail To Love Ourselves’ exibe na sua essência uma orgânica, estimulante e pujante promiscuidade entre Post-Metal, Sludge e Hardcore ainda que ao contrário dos seus “afiliados” Norte-Americanos complementem a “poção” com umas esporádicas provocações de Black Metal. Os destaques de ‘We Fail To Love Ourselves’ vão para o Hardcore febril e encorpado de ‘The Longing’ e ‘Permanence’ e para ‘The Silhouette’ e ‘Self Control’, temas onde sobressai a rugosidade e emotividade do Sludge Metal. Também em termos líricos existem pontos de contacto com as temáticas preferenciais dos Generation Of Vipers pois segundo os próprios Adur liricamente o álbum analisa a condição humana e como esta por ser afectada pela indiferença. Um consistente álbum de estreia que vaticina um sólido início de carreira para os Adur.  

 8/10

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