Em termos filosóficos embora de forma algo grosseira, a palavra de origem japonesa Kintsugi pode significar a aceitação do imperfeito ou do defeituoso, um verdadeiro paradoxo quando falamos de ‘Kintsugi’ o terceiro trabalho de originais dos Parisienses Demande à la Poussière. Três anos depois do excelente ‘Quiétude Hostile’ o quarteto Gaulês está de regresso com esta verdadeira obra-prima. Não há de facto álbuns perfeitos mas ‘Kintsugi’ (ao contrário de um dos significados da própria palavra) está muito perto disso. Intensidade talvez seja a palavra que melhor define ‘Kintsugi’. Um verdadeiro turbilhão sonoro onde se entrelaçam quase até ao ponto de serem indistinguíveis, o Black Metal, o Doom Metal, o Sludge e o Post-Metal numa atmosfera angustiante, sôfrega e vulnerável. ‘Kintsugi’ desvenda-nos uns Demande à la Poussière com uma orgânica muito particular onde se destacam as apoteoses emocionais apoiadas em riffs camaleónicos entre o peso do Doom Metal e a vertigem do Black Metal, cortadas de forma imprevisível pela dissonância e melancolia de um Post-Metal de contornos trágicos e martirizantes. ‘Kintsugi’ exibe de forma incontestável, não só a fantástica evolução de uma banda com apenas seis anos de existência como toda a sua mestria na arte da composição musical. Sendo quase criminoso destacar temas num álbum que é obrigatório ouvir na íntegra arrisco realçar as faixas ‘Ichinawa’, ‘Vulnerant Omnes, Ultima Necat’ e ‘Miserere’ como as mais formidáveis dentro da excelência global de ‘Kintsugi’.
9/10
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