terça-feira, 14 de abril de 2020

O Corona Vírus, os culpados e os inocentes.




Eis que com 2020 chega também uma pandemia de proporções assustadoras, apresentando até à data números alarmantes onde se destacam particularmente os Estados Unidos com mais de 600.000 casos e mais de 24.000 mortos, números verdadeiramente perturbantes.
                Muito se tem falado nos últimos meses sobre o nefasto efeito desta crise mundial quer em termos de saúde pública quer acerca da inevitável crise económica inerente, outra temática amplamente abordada são as conhecidas medidas de protecção individual (isolamento, distancia social e higiene), o mundo praticamente “parou” devido à Covid-19 no entanto o foco desde post vai ser sobre algo menos falado mas de grande relevância a meu entender, a origem do Corona Vírus.

                A versão oficial é que a Covid-19 foi detectada em primeira instância em várias pessoas utilizadoras do mercado de Wuhan (China) algures no início de Janeiro de 2020 e que o vírus supostamente foi transmitido de alguma maneira de um morcego para um pangolim e A posteriori para humanos. Sabendo de antemão que por aí vão surgir várias teorias da conspiração férteis em criatividade contrastando com a versão oficial, acho bastante prematuro haver uma certeza absoluta do que se terá verdadeiramente passado, parecendo-me no entanto pacifico aceitar que Wuhan foi de facto a primeira região onde se descobriu a Covid-19.

                Serve então este post para refutar veementemente um primitivo, fácil e constante apontar de dedo à China como o país verdadeiramente culpado do aparecimento deste trágico vírus, não porque a China seja inocente mas sim porque me revolta profundamente a incessante pose de “virgem ofendida” por parte de todo o mundo ocidental.

                Desde a viragem do milénio que a China tem feito uma declarada e intencional abertura económica ao mundo com tudo o que isso acarreta, fruto de um estonteante crescimento industrial a sua economia tem-se solidificado gerando assim uma densa e volumosa classe média praticamente inexistente até então, no entanto tudo tem um preço e esse preço está agora bem visível. A indústria Chinesa não tem nem nunca teve quaisquer preocupações ambientais e de segurança tal como o comércio Chinês descura inusitadamente quaisquer normas sanitárias, não porque o povo Chinês tenha um histórico de não cumprir regras mas sim porque essas normas pura e simplesmente não existem, ao contrário do que acontece e bem no chamado mundo ocidental onde se destaca a Europa como grande impulsionadora dessas normas. Qualquer empresa seja de que área for situada algures da Europa, vê-se obrigada a cumprir escrupulosamente várias directrizes ambientais, sanitárias e de segurança encarecendo assim forçosamente o produto que fabrica competindo em mercado aberto com produtos chineses mais baratos não só mas também devido a este factor.

                Um claro exemplo do resultado desta despreocupação do governo Chinês com normas ambientais é a gigantesca e permanente nuvem de poluição que paira sobre Pequim vista distintamente e com estupefacção por todo o mundo nos Jogos Olímpicos de 2008 dando uma perdurável tonalidade cinzenta ao céu da cidade independentemente das condições climatéricas que se façam sentir submetendo a população ao compulsivo uso de mascaras já desde essa altura.

                 A grande questão que se impõe é: Será que os governos do mundo ocidental estão isentos de culpa? E todos nós? Será que estaremos completamente inocentes?

                A resposta parece-me evidente, é óbvio que não. Todo o mundo ocidental há anos que conhece estas práticas e a troco de um enorme potencial de consumidores de uma classe média que não existia assobia para o lado acerca dos padrões Chineses, aliás várias marcas ocidentais de renome até tem empresas na China para se aproveitarem da mão-de-obra mais barata e de não terem normas do que quer que seja a cumprir para aumentarem as suas margens de lucro. Os governos ocidentais também estão longe de serem inocentes, pois tem coragem para efectuar embargos de cariz politico durante décadas a países como Cuba mas falta-lhes a mesma coragem para, por este e outros meios e por motivos bem mais importantes limitar ao máximo as exportações Chinesas, fazendo assim desse modo pressão à China até haver nítidas mudanças nas suas politicas internas.

                 E também nós (onde me incluo) os comuns mortais podemos achar não temos culpa nenhuma mas isso não é inteiramente verdade, pois cada vez que vamos às famosas “lojas do Chinês” ou ao “restaurante Chinês” estamos, mesmo que seja de maneira residual, a fomentar as lamentáveis praticas deste País, portanto não podemos agora ser ágeis a apontar o dedo sem assumir primeiro a nossa (mesmo que ínfima) quota-parte de culpa.

                 A alucinante velocidade de transmissão da Covid-19 resulta essencialmente de uma fétida e incomportável globalização assente numa doentia obsessão com o turismo, é portanto perfeitamente natural que a resposta a esta pandemia seja também ela global, porque para mim muito mais importante do que a actual crise sanitária e a mais que prometida crise económica adjacente será garantir que uma crise desta dimensão jamais se volte a repetir.

                Resumindo, não existem inocentes, todos temos uma parte (por mais pequena que seja) de culpa, portanto mais importante do que simplesmente fingirmo-nos de inocentes e acusarmos terceiros é digerir o que esta a acontecer, apreender com tudo isto de preferência sem as propagandas ridículas do “vai ficar tudo bem”, não não vai, aliás para muita gente não vai mesmo ficar nada bem, e fazer o possível para que não volte a acontecer pois o preço que se paga é demasiado alto.       


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