
Já se passaram quase três meses
portanto é provável que o tema já não esteja fresco na memória dos nossos
leitores contudo vamos mais uma vez falar dos Óscares, dos seus vencedores e das (in) justiças da noite. Desta
vez vamos inserir um pouco de imprevisibilidade e começar pelos prémios que
envolvem mais drama, os Óscares de
interpretação. Nos actores
secundários o grande vencedor da noite ‘Everything Everywhere All at Once’ mostrou um sinal de força ao
arrebatar os prémios feminino e masculino (Jamie
Lee Curtis e Ke Huy Quan) e logo
aqui a minha opinião diverge e muito na vertente masculina, obviamente que esta
foi a noite de ‘Everything Everywhere
All at Once’ mas os Óscares tem
categorias por alguma razão e elas devem ser analisadas separadamente mais
ainda no âmbito da interpretação. Brendan
Gleeson (‘The Banshees of Inisherin’)
ainda hoje se dever questionar o que mais poderia ter feito para vencer o Óscar. Nos papéis principais o superfavorito Brendan Fraser venceu com toda a justiça depois da sua magnífica
encarnação de Charlie em ‘The Whale’ enquanto nas actrizes Michelle Yeoh (‘Everything Everywhere All at Once’) acabou por conquistar o
galardão apesar da forte concorrência de Michelle
Williams (‘The Fabelmans’) e Cate Blanchett (‘Tár’).
Passamos para as categorias dos
argumentos, categorias essas que já tradicionalmente tendem a ser as mais
criticáveis, no melhor argumento
original o prémio sorriu mais uma vez a ‘Everything Everywhere All at Once’ e de facto considerando os
nomeados a decisão faz algum sentido principalmente pela criatividade ainda que
esse mesmo argumento seja parco em consistência. Já na vertente da adaptação o vencedor foi ‘Women Talking’ um filme que ainda não
tive oportunidade de ver portanto não posso dar uma opinião sustentada todavia
posso dizer que nenhum dos outros nomeados se destacou particularmente.
Passamos para as categorias técnicas começando pelo Óscar de melhor guarda-roupa onde ‘Black Panther: Wakanda Forever’
arrebatou o seu único Óscar da
noite, uma decisão algo surpreendente dado que o grande favorito era ‘Babylon’. Na melhor caracterização quem
levou a melhor foi ‘The Whale’ e com
toda a justiça deixando logo aí ‘The
Batman’ com pouca esperança de acabar a noite com algum Óscar na bagagem, é verdade que é de
louvar a caracterização de Colin Farrell
como The Penguin contudo ela não foi
suficiente para superar a incrível transformação de Brendan Fraser em Charlie
(‘The Whale’). Nos efeitos visuais o galardão foi
atribuído a ‘Avatar: The Way of Water’,
o filme que foi na verdade o único real candidato ao Óscar. Outro filme que acabou por se destacar nas categorias
técnicas foi ‘Top Gun: Maverick’
ainda que apenas tenha conseguido ser bem-sucedido na categoria de melhor som. Foi na categoria de melhor direcção artística que houve a
meu ver a grande injustiça das categorias técnicas com ‘Im Westen nichts Neues’ a levar de vencido ‘Babylon’ e se havia Óscar
que claramente tinha de ser atribuído a ‘Babylon’
seria este. Por último, a melhor edição,
Óscar também ele conquistado por ‘Everything Everywhere All at Once’ e de
facto a edição deste filme era de um altíssimo grau de exigência.
Antes dos prémios mais cobiçados
da noite resta falar da melhor
cinematografia, um Óscar que tem
sido muito disputado nos últimos anos, desta feita quem saiu vitorioso foi ‘Im Westen nichts Neues’, um filme que
para além deste Óscar conseguiu
também superar a concorrência no melhor
filme estrageiro (uma categoria que cada ver faz menos sentido).
Nos dois principais Óscares (melhor realizador e melhor
filme) o vencedor foi o mesmo, ‘Everything
Everywhere All at Once’, como já era previsível. É raro, muito raro alguém
superar o mestre Spielberg na arte
realização o que só por si não faz com que um filme tenha qualidade ainda que
supostamente é apenas a vertente da realização que está a ser analisada nesta
categoria, mais um Óscar em débito
para Spielberg, eu acho mesmo que
ele já nem está a contabilizar. Nota para a nomeação de Ruben Östlund com ‘Triangle
of Sadness’, uma das três nomeações conseguidas por este bizarro filme. Em
jeito de conclusão tenho de exultar a minha estupefacção em ver, num ano em que
o cinema foi mais uma vez exacerbadamente medíocre, num grupo de dez nomeados
não haver espaço para filmes como ‘The
Whale’, ‘Amsterdam’, ‘See How They Run’ ou ‘Bullet Train’, estes últimos três com
umas inacreditáveis zero nomeações.